quinta-feira, 28 de julho de 2016

O Ondaparque e a velha Quinta de Brielas na Caparica.



Armas :  Guedes e Goes 

Quando em 1868 o velho patriarca se sentiu adoentado, pensou que os bons ares de Massamá pudessem arrebitar forças aos seus 72 anos.

Nada feito. Em Queluz, a 13 de Setembro de 1868, falecia com os sacramentos, o patriarca João de Brito Pereira Pinto Guedes Pacheco. O corpo for encaminhado para o Monte da Caparica, onde dias mais tarde veio a ser sepultado, presume-se que ao lado do corpo da sua mulher D. Maria da Luz de Lacerda Castelo Branco e filha Maria da Penha do Resgate.

Apesar de ter nascido em Óbidos, na casa paterna de família, o solar "Brito Pegado", terá vindo para Lisboa cedo. Aos 6 anos ficou orfão de sua mãe D. Antónia Leonor Pereira Pinto Guedes de Ataíde Portugal, e talvez por essa razão, a avó D. Antónia Joaquina de Portugal esteve tão presente na sua vida.

Solar dos "Brito Pegado"em Óbidos, onde nasceu João de Brito Pereira Pinto Guedes Pacheco. 

É precisamente pelo lado materno que herda os bens da Caparica, que por serem vastos determinam que faça da sua Quinta da Conceição, no sítio da Cova, Caparica, morada permanente.

Este augusto homem, sábio e precavido, ditou o seu testamento dias antes de morrer. A sua terça passou-a aos netos, filhos do seu primogénito António Maria, que eram à data seis: João da Graça, Henriqueta, Maria da Luz, Eugénia, Isabel e Maria da Penha.

A temperar as partilhas esteve o Conselho de Família composto por:
José Isidro de Seabra Mouzinho
Visconde de Juromenha
D. Miguel Pereira Coutinho
Francisco Rebelo Palhares Zagalo e Mello
Joaquim Policarpo de Almeida

Curador:
Padre Luis Bernardino de Carvalho Pacheco


O património referente à Caparica é então repartido entre os vários herdeiros, estando o filho António Maria à cabeça como o maior contemplado. Mas à Maria da Penha, que teria por volta de 5 anos de idade, cabe-lhe uma propriedade conhecida, e agora abandonada, a quinta onde está o antigo Ondaparque, a Quinta de Brielas:





Vista de Caparica tomada dos Capuchos, após os desaterros no vale cego de Brielas para a construção do IC 20.

Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa, (https://almada-virtual-museum.blogspot.pt)



1. Uma quinta denominada de Brielas, junto à Costa de Caparica, deste Concelho, que confronta pelo Norte e poente com o Conde dos Arcos, pelo Nascente com o Marquês de Valada, e pelo Sul com terras da Costa da Caparica, aforada a Francisco Xavier Rodrigues, pelo foro anual de cento e dezanove mil e setecentos reis, avaliada como livre em quatro contos de reis, e nos termos do artigo dois mil e noventa e seis do Código Civil, com o valor do laudémio de quarentena, respectivo ao domínio directo, em dois contos duzentos e sessenta mil e vinte réis.>



fonte : Carta Topográfica Militar da Península de Setúbal (detalhe), José Maria das Neves Costa, 1813
Imagem: IGeoE (https://almada-virtual-museum.blogspot.pt)


Outros prédios que recebeu e que se mencionam pois contêm coordenadas e nomes:

2. O domínio directo de um foro imposto em uma casa, terra ( que dantes se achavam reduzidas pelo seu estado de ruína a um pardieiro) com seu logradouro, sita no lugar da Cova, freguesia de Nossa Senhora do Monte de Caparica, do concelho de Caparica, de que hoje é enfiteuta Miguel António da Ponte, que em outro tempo partiam de Nascente com casas que foram de Manuel José Lopes, Poente com casas que foram de Manuel Guedes Pereira, do Norte com quinta do Conde dos Arcos, e do sul com estrada publica que vai para a Trafaria, e hoje partem do Nascente e Norte com o Conde dos Arcos, e do Poente com prédios do casal, cujo inventariado (João de Brito Pereira Pinto Guedes Pacheco) comprou o domínio directo a Dona Maria Madalena Guedes Pereira (tia), sendo então do valor de cinco mil réis, e foi avaliado o mesmo domínio directo na quantia de centro e quarenta e quatro mil réis.

3. Duas courelas, situadas em Murfacem, freguesia de Caparica, aforadas a António da Costa do sobredito lugar.

4. Uma casa situada em Murfacém, freguesia de Caparica, aforada a Joaquina Rosa do sobredito lugar.

5. Uma vinha sita na Granja, freguesia de Caparica, aforada a Maria Teodora do mesmo sitio.

6. Uma terra com vinha e casas de sobrado e abegoaria, situada na Granja, freguesia da Caparica, aforada aos herdeiros de Manuel Ricardo Domingues, do mesmo sitio,

7. Uma fazenda situada no Bairro da Figueira, freguesia de Caparica, constando de casas, vinha, arvores de fruta, aforada hoje a Frederico Rodrigues Serra por oito mil e setecentos reis e nove galinhas, confrontando pelo Norte com fazenda de Manuel Ricardo, pelo Sul com estrada real, pelo Nascente com fazenda de António de Anjos (?), e pelo Poente com fazenda de Teresa de Jesus.

8. Uma fazenda que consta de casas e vinha no sítio da Granja, freguesia de Caparica, aforada aos herdeiros de Manuel Ricardo Domingues por três mil e duzentos reis e duas galinhas anualmente, confronta pelo Nascente e Norte com estrada pública e a Sul com fazenda de Frederico Serra, e Poente com o mesmo.

9. Uma vinha situada no Bairro da Figueira, freguesia de Caparica, aforada a Frederico Rodrigues Serra.

10. Uma vinha no sítio da Granja, freguesia de Caparica, aforada aos herdeiros de Manuel Ricardo Domingues por tres mil e seiscentos reis e cinco galinhas anualmente, confronta do Nascente e Sul com o Casal da Granja, Norte com José Rodrigues Lago (?), e Poente com estrada pública.

11. Um moinho de vento com suas pertenças no sítio da Granja, freguesia de Caparica, aforado aos herdeiros de Manuel Ricardo Domingues, pela quantia anual de cinco mil e seiscentos réis, confrontando pelo Nascente e Norte com estrada pública, e pelo Sul, e Poente com o enfiteuta.

12. Um terreno junto a um moinho de vento, situado na Granja, freguesia de Caparica, e aforado aos herdeiros de Manuel Ricardo Domingues, pela quantia de cinco mil e seiscentos reis anualmente, parte pelo Nascente e Norte com estrada pública, pelo Poente com António Ricardo Domingues.

13. Um terreno junto a um moinho de vento, situado na Granja, freguesia de Caparica, e aforado aos herdeiros de Manuel Ricardo Domingues, pela quantia de cinco mil e seiscentos reis anualmente, parte de Nascente e Norte com estrada pública, do Sul e Poente com Florencia Ricardo Domingues.

14. Duas vinhas situadas na Granja, freguesia de Caparica, aforadas a António José de Araújo, de Porto Brandão, pela quantia de seis mil e quatro centos reis em cada ano, partem pelo Nascente e Norte com Antonio Ricardo Domingues, Poente com Frederico Sara (?), e Sul com estrada pública.


14. Uma vinha no sítio do Portinho, freguesia da Caparica, confrontando a Norte com a quinta de Vasco de Almeida, do Sul com fazenda do Conde dos Arcos, de nascente com a quinta do capitão Francisco Pedro, e do Poente com a azinhaga do Portinho, arrendada a José Romão.

15. Uma courela de vinha no sitio de Pera, freguesia de Caparica, confrontando de Norte com fazenda do Conde dos Arcos, do sul com a quinta do Ferrinho (?), do Nascente com estrada publica e do Poente com fazenda de José de Oliveira, arrendada a António Jacinto Ferreira .

16. Uma courela em Castelo Picão, freguesia de Caparica, arrendada a João Esparralhado por três mil e seiscentos réis anualmente, e parte pelo Nascente com José Macanio (?), Poente com casal da Formiga, Norte com herdeiros de Domingos Petisca, e Sul com estrada pública.


O que aconteceu a D. Maria da Penha e às propriedades é outra história, que continua....

Notas sobre 
 Carta Topográfica Militar da Península de Setúbal:


10 Forte do Guedes, actual Quinta da Conceição,
21 Forte de Pera de Cima, Quinta da Conceição, alt. 200 mts.

in PEREIRA DE SOUSA , R. H., Fortalezas de Almada e seu termo, Almada, Arquivo Histórico da Câmara Municipal, 1981, 192 págs.



sexta-feira, 20 de maio de 2016

Do Castelo de Alvito, do tempo das coisas, do que não mudou.


O castelo de Alvito, a casa dos Alvitos. 

Castelo de Alvito, Alvito, Distrito de Beja. fotografia de 2014


Carta de 30 de Abril de 1481 (excerto
( Pera se fazer hu castello em Alujto)

<Dom Afonso V…, a todos quantos esta carta virem fazemos saber que olhando nós o sitio da Vila de Alvito que é por ora de Dom. João da Silveira, barão dela e dona Maria Lobo sua mulher … fazer um castelo e como seria proveitoso para a sua defesa e dos moradores no tempo de guerra e ainda para se em ele acolherem os moradores das outras terras da baronia do dito barão de que ela é principal e cabeça e conhecendo que as fortalezas e castelos fortificam e honram o Reino …havemos por bem e por esta damos lugar e licença ao dito barão que ele possa fazer na dita vila ,…., que ele entender mais conveniente. >
(Torre do Tombo, Cárea régia Torres Novas,).

Fachada lateral do castelo de Alvito, virada para jardim. 


Esta autorização foi confirmada por D. João II a 9 de Abril 1489 e por D. Manuel I a 4 de Outubro de 1497.
Desde a primeira data de 1481 até o início dos trabalhos em 13 de Agosto 1494 mediaram 13 anos. A empreitada foi abraçada pelo segundo barão, D. Diogo e há notícia que a “primeira inauguração” terá acontecido em 1504.
Pátio central do castelo de Alvito 


Durante quatro séculos manteve-se o castelo na posse dos Alvitos, até que chegando aos finais do século XIX, o Marquês-Barão D. José Lobo da Silveira, o vende à Casa de Bragança, num primeiro acto com o contrato de "promessa de compra e venda" ao Rei D. Luís e finalmente através do "contrato de venda" ao Rei D. Carlos. 

Entrada principal do castelo de Alvito

quinta-feira, 24 de março de 2016

A enigmática foto do "Goodair".

De quem era esta fotografia? Quem era esta misteriosa senhora, e por alma de quem aparece na minha caixa das fotos antigas?



No verso, a pista : < Oferece Júlia Nogueira Lacerda ao seu prezado mano João Maria Goodair de Lacerda Castelo Branco. >

Que sorte a minha apanhar um apelido pouco comum, um elemento distintivo que facilita e muito a investigação. Busco no Google, rapidamente encontro Hugo Goodair de Lacerda Castelo Branco, a combinação dos apelidos indicavam que eu não podia estar longe.  

Hugo Goodair de Lacerda Castelo Branco natural da Lapa, Lisboa a 2 de Julho de 1836 (projecto Germil) , filho de Francisco Maria de Figueiredo de Lacerda Castelo Branco e de Amélia Goodair. Era neto de Nicolau Xavier de Figueiredo Melo de Bulhões Lemos Castelo-Branco, 1 o Barão de Beduído, e de Maria da Penha de França Pereira de Lacerda. Foi Governador de Macau por duas vezes, uma de 1873 a 76 e outra de 1876 a 78. Reformou-se no posto de General em 1894. Casou com Maria Guilhermina Salomé de Carvalho com quem teve geração.


Porém, não detectava o apelido Nogueira, nem algum João Maria Goodair de Lacerda Castelo Branco. Eis então que encontro no meio da papelada umas breves notas genealógicas destes Goodair. 


E lá estava a resposta: um segundo casamento( anotação "outra mãe"), com geração e apelido materno Nogueira.

A sorte bafejou novamente. Encontro Vítor Hugo Nogueira de Lacerda Castelo Branco (projecto Germil), nascido a 12 de Setembro de 1873, São Mamede de Lisboa, filho de Hugo Goodair de Lacerda Castelo Branco e de Júlia Caetana de Anunciação Nogueira de Lacerda. Era então esta misteriosa senhora que aparecia na fotografia. E talvez o bébé seja Vitor Hugo. 

Falta apenas esclarecer quem seria João Maria, a quem a Júlia Nogueira de Lacerda chama “mano”. 
O meu palpite vai para João Maria ser seu cunhado, …,mas não lhe apanho pista. Terá ele recebido a foto, e algures no tempo partilhou-a com os seus primos? E assim, anos e anos depois aterra num caixote de fotos antigas, de enigmas a decifrar. 


segunda-feira, 21 de março de 2016

Um Casamento "Redondo".

Fonte: Geneall, D. Mariana Luísa de Sousa Coutinho 

Consta que foi um casamentão, este entre D. José Lobo da Silveira e a sua prima direita D. Mariana Luísa de Sousa Coutinho. Diz-se até que D. José falava da sua Boda como muito frutuosa, que para além de lhe resolver o problema de encontrar com quem fundar família, resolvia os problemas financeiros que ele herdava da sua própria casa de Alvito. Porém, e há aqui o revês, dizia ele que a rica noiva, filha única dos Condes de Redondo, herdeira universal dos pais, teve um inesperado irmão, de nome Fernando. A isto, o Alvito referia-se com pesar : <Uma partida da minha sogra! …coisas que só a mim me acontecem! >.
A verdade, é que D. Fernando, o mano mais novo de D. Mariana tinha 13 anos de idade a quando do casamento do Alvito.
O bom do Alvito, mais uma vez lançava o isco a quem o mordesse.
 Fonte: Geneall, D. José Lobo da Silveira

D. Mariana é filha do 15o Conde de Redondo. Nasceu a 18 de Maio de 1821 na freguesia de Coração de Jesus. Prima direita do futuro marido, pelo lado do pai, veio a casar também na freguesia de Coração de Jesus a 02 de Outubro 1848, no Oratório do Palácio do Conde Redondo na Rua de Santa Marta, pela mão de Dom António Armando Saldanha da Camara.
Fonte: Arquivo Camara Municipal de Lisboa, Documento PT/AMLSB/BAR/000704

Apesar da proximidade das famílias, foi realizado um acordo pré-nupcial, com o seguinte teor:
Aos 30 de Setembro 1848, o tabelião João Caetano Corrêa foi chamado à Rua de Santa Marta, Palácio dos Condes de Redondo, onde estavam presentes, de uma parte o Conde e a Condessa de Redondo e a sua filha D. Mariana Luísa de Sousa Coutinho com o seu procurador o Ex.mo Senhor Luís Carlos Pereira d’Abreu Bacelar de Castelo Branco e da outra parte os Condes Barões de Alvito e o filho primogénito D. José Lobo da Silveira Quaresma com o seu procurador Dom António do Santíssimo Sacramento Thomaz de Almeida e Lisboa; e logo pelos Ilustríssimos e Ex.mos Senhores Conde e Condessa Baronesa de Alvito e Conde e Condessa de Redondo, e foi dito ao tabelião e às demais testemunhas nomeadas e “assinadas” que desejando estreitar mais os laços de parentesco em que se acham, pretendem unir-se com laço conjugal o Ilustríssimo e Ex.mo Sr. D. José Lobo da Silveira Quaresma com a Ilustríssima e Excelentíssima Sra. D. Mariana Luísa de Sousa Coutinho para cujo fim obtiveram dispensa, estabelecem o seu contrato debaixo dos auspícios das leis de 17 Agosto de 1761, a de 4 de Fevereiro 1765, Real decreto de 17 de Julho de 1778, na parte em que estão em vigor, e são aplicáveis no presente contrato, a saber: Que a Ilustríssima e Ex.ma Sra futura se dota com os bens, direitos e acções que de futuro lhe hajam a pertencer; Que mais se dota com as joias e todos os objectos que formam o seu enxoval, ficando este e aquelas gozando sempre o privilégio de bens dotais; Que dos ditos bens poderá a dita Ilustríssima e Ex.ma Senhora futura dispor em Testamento no caso de não haverem filhos deste consórcio, bem assim daqueles que por sua cabeça vierem a calhar seja qual for o modo ou maneira; Que o Ilustríssimo e Ex.mo Sr. Conde e Ilustríssima e Ex.ma Sra. Condessa Baronesa de Alvito como administradora da sua casa, se obrigarão pelos rendimentos a contribuir a ela sua Ilustríssima Ex.ma Sra. futura nora com a quantia mensal de cinquenta mil reis pagos em mesadas adiantadas para seus alfinetes, e sobrevivendo a futura nora ao futuro noivo haverá de sua Casa a parte….que lhe compete no estado de viuvez conforme as Leis deste Reino.
Ficam com natureza de incomunicáveis as jóias, o enxoval prata e todos os demais bens que vierem a adquirir por sua cabeça seja qual for a sua natureza.
Assinam:
D. Mariana Luísa de Sousa Coutinho, D. José Lobo da Silveira Quaresma, Conde de Redondo, Condessa de Redondo, Condessa Baronesa de Alvito, Conde Barão de Alvito.
Luís Carlos Pereira d’Abreu Bacelar de Castelo Branco (casado com D. Maria de Jesus Luísa de Sousa Coutinho, tia de ambos os nubentes).
Dom António do Santíssimo Sacramento Thomaz de Almeida e Lisboa, Bacharel formado em Direito.
Testemunhas pelo lado do noivo:
Conde de Pombeiro (casado com D. Maria Francisca Luísa Sousa Coutinho, tia de ambos os nubentes).
Conde de Seia (primo dos nubentes, descendente Marquesa de Tancos).
António da Cunha e Lorena (casado com a prima de D. José, filha de D. Maria da Graça Lobo da Silveira).
Ascenso de Siqueira Freire (veio a ser segundo Conde de São Martinho, casado com D. Maria da Graça Lobo da Silveira).
Testemunhas pela parte da noiva:
Conde de São Lourenço, Brigadeiro do Exercito, Ministro e Secretário de Estado da Guerra.
Conde d’Atalaia, casado com D. Margarida Luísa de Sousa Coutinho, tia de ambos os nubentes, Manuel Luís de Sousa, e Conde da Ribeira Grande D. Francisco Gonçalves Zarco da Camara.

(Não parece pois que daqui viesse fortuna.)

sábado, 4 de julho de 2015

Enterrar os Machados (I)


Em 1759, um grupo de mercadores de Lisboa, do Porto e do Pernambuco  solicitam autorização à Coroa para estabelecer a “Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba”. Entre vários nomes encontramos Policarpo José Machado. 
Era ele filho de António Francisco Machado e de Valentina Franco da Mota, que terá nascido em Lisboa por volta de 1720. Casou em 1765 com Maria Luísa Albertoni, uma jovem que devia o seu "estranho" apelido a alguma costela italiana, sendo que a única pista da sua origem estrangeira” é a do avô materno Giovanni Francesco Jori, que aporteguesou o nome para João Jorge casado com Caterina Hebert. Consta que Giovanni nasceu e foi baptizado em Santa Maria da cidade de Horta (Novara, Milão).
A dita Companhia Geral do Pernambuco e Paraíba foi constituída com capitais próprios, sem participação da Fazenda real:
<Podia fabricar naus mercantis e de guerra nos estaleiros do Reino; cortar madeiras no distrito do Porto, em Alcácer do Sal e noutras matas, levantar gente de mar e de guerra para as guarnições a manter no Reino, nas Ilhas e nas capitais de Pernambuco e da Paraíba. Os seus navios só podiam ser recrutados para o serviço régio em caso de perigo na costa, barras e portos do Reino>.
Este Policarpo José Machado é nos anos de 1770 um abastado comerciante da praça de Lisboa, contratador geral de Tabaco. Em 1780 é também contratador das saboarias do Reino e Ultramar, juntamente com outros nomes como Anselmo José da Cruz, Luís Rodrigues Caldas e Geraldo Venceslau de Almeida Castelo Branco. A “licença” de exploração destas saboarias, por um período de 3 anos, custava 40 contos de réis pagos a fazenda real.

Terá sido destes conhecimentos e amizades dos negócios, que Policarpo José Machado casa o seu filho António Francisco Machado com a filha de Luís Rodrigues Caldas, D. Ana Maria Cleofa Pereira Caldas. Aliás, deve ter começado por aqui a longa tradição de casamentos entre primos.

(fonte ; geneall, páginas familiares)

Era D. Ana Maria Cleofa Pereira Caldas prima direita de Luís Pereira Velho Moscoso ( dos Pereiras Velhos de Moscoso, Senhores da Casa da Varjoeira junto a Monção), quem mandou edificar o palácio da Brejoeira, e que casou com a irmã de D. Ana Maria, a D. Luísa Maria Cleofa Pereia Caldas.

(Palácio da Brejoeira, fonte : Wikipédia)

<Cerca de 1806, Luís Pereira Velho de Moscoso deu início à construção do Palácio da Brejoeira, na freguesia de São Cipriano de Pinheiros. Com um custo total de 400.000.000 de réis, então um valor elevadíssimo, esta construção só foi possível por os antepassados do seu fundador terem conseguido no comércio uma grande fortuna. > 

Na geração seguinte, novamente uma série de casamentos entre os mesmos suspeitos. Parece ser clara a estratégia de manter na família, e se possível concentrar, o património. Policarpo José Machado, o neto, foi feito Visconde de Benagazil por D. Maria II em 1846, comerciante abastado de Lisboa, torna a casar com uma sua prima Pereira Caldas. O mesmo virá a suceder ao seu filho, também Policarpo José Machado (bisneto) que casa com uma prima, fruto também de uniões consanguíneas de apelidos Pereira Caldas Machado.
Parece pois não haver dúvida que a dispersão do património foi evitada e contrariada.

(Palácio do Caldas, fonte : CML)

Desta preocupação, ou casamento de Policarpo José Machado e D. Joana Francisca Rita Pereira Caldas Machado, nasceram 6 filhos, todos no Palácio do Caldas, que era pertença do avô materno António Pereira Caldas. Foram eles:
António Caldas Machado; Policarpo José Caldas Machado; Maria Assunção Caldas Machado; Joana Francisca Caldas Machado; Catarina Caldas Machado; Maria Madalena Caldas Machado.

Foram estes os últimos moradores do Palácio do Caldas, o do largo do mesmo nome ou melhor, actualmente Largo Adelino Amaro da Costa, Lisboa. Podia-se esperar encontrar a história destes irmãos, ou pelo menos do Palácio na net, mas curiosamente não há praticamente entradas para estes nomes. E porquê? Se por exemplo o aeroporto da Portela está implantado numa das suas quintas. Ou o Palácio dos Coruchéus em Lisboa também lhes pertencia. Não haverá um bloguista que ao tratar algum destes temas, tropece no nome deles? Será que estes irmãos não foram deliberadamente apagados, ou esquecidos com muito fervor?
(continua) 

terça-feira, 30 de junho de 2015

Pergunta o que não deve, ouve o que não quer.


(Rei D. Carlos, pintura a óleo Mário de Novaes)

A propósito de perguntas indiscretas e respostas habilidosas lembrei-me desta história. Parece aplicar-se à situação actual: à pergunta indecorosa, o troco é uma surpresa. Resultado, pouco resta senão sorrir e admirar a inteligência de quem parecia ser “indefesa presa”. Quanto à resposta dos gregos, logo veremos.

…episódio que se conta do nosso Rei, o Senhor Dom Carlos, que entrando no portão majestoso do palácio ducal de Vila Viçosa deparou com um jovem criado deveras parecido com os Príncipes, seus filhos. Muito intrigado, não resistiu a dirigir a palavra ao rapaz e, quase sem ele se aperceber do rodeio, inquiriu-lhe: - “Diz-me lá, moço, a tua mãe foi aqui empregada do Paço?”. O rapaz, muito cortês e respeitoso retorquiu-lhe com um sorriso um tanto malicioso: - “Saiba Vossa Majestade que não. Meu pai é que foi aqui jardineiro…”. O nosso Rei apreciou muito a resposta e só conteve a gargalhada porque havia aquele respeito a moderar as relações. 
de : R. Forjaz de Brito, 1984. 

domingo, 28 de junho de 2015

Era o Sal de Setúbal




Pelo interesse histórico que o sal teve na nossa civilização, e no caso em concreto, na actividade económica de Setúbal, aqui deixo apenas a descrição do que eram umas salinas na foz do rio Sado. Com pena minha, não consigo localizar exactamente as ditas salinas, mas talvez algum dos leitores possa vir a acrescentar informações que o venham a permitir. Apenas uma nota informativa, um moio corresponde a 900 kg.

(fonte: Do glorioso passado das marinhas do Sado; Neves, Renato) 

Aqui está uma avaliação das ditas salinas em 1868:

#1 Uma marinha nas Praias, freguesia de São Sebastião (da Palma, em Alcácer do Sal), desta cidade (Setúbal), que tinha na repartição na extinta roda do sal, noventa moios, da qual são enfiteutas os herdeiros de Agostinho Rodrigues Albino, e confronta pelo Norte com baldio de Santo Ovídio, pertencente a José Joaquim de Oliveira e Silva, do Sul com esteiro da citada marinha, Nascente com uma marinha de João José Soares, e Poente com a de D. Ana Carlota de Gomes Meneses Ferro, e atendendo ao seu estado lhe damos de valor a quantia de um conto e quinhentos mil réis.

#2 Uma marinha sita no Granadilho, dita freguesia, que tinha na extinta roda do sal, vinte e três moios, da qual são enfiteutas os ditos herdeiros, e confronta do Norte com esteiro da mesma marinha, do Sul com madre d’água, do nascente com marinha de José Maria do Patrocínio Meneses Ferro e do Poente com a de João Esteves de Carvalho, atendendo ao seu estado, damos-lhe de valor a quantia de trezentos mil réis.

#3 Uma marinha denominada a primeira, no sítio dos Montes, da dita freguesia, que tinha de repartição na extinta roda do sal, setenta e um moios, da qual são enfiteutas os ditos herdeiros de Agostinho Rodrigues Albino, e confronta do Norte com madre d’água da marinha do Guedes pequena abaixo confrontada do Sul e Poente com a dita madre d’agua e nascente com a marinha do Guedes, atendendo ao seu estado, damos-lhe de valor a quantia de setecentos mil reis.

#4 Finalmente uma outra marinha no dito sitio das Montes, denominada a segunda do Guedes pequena, que tinha de repartição na extinta roda do sal, cinquenta e três moios da qual são enfiteutas os ditos herdeiros, e confronta pelo Norte com a madre de agua e a marinha de José Maria da Costa, do Sul com a Madre de água, do Nascente com marinha do dito José Maria da Costa, no mesmo alagamento e poente com a marinha do Guedes grande, acima confrontadas e atendendo ao seu estado lhe damos de valor a quantia de seiscentos mil reis.

Setúbal, 12 de Novembro 1868.
…..
E duas outras Marinhas, situadas no esteiro da Palma, aforadas a Agostinho Rodrigues Albino, hoje a seus herdeiros:

#5 Uma marinha situada no esteiro da Palma, freguesia de S. João da Palma deste julgado (Setúbal), e ali depois de a termos examinado, vimos que confina do Norte com esteiro do Guedes, do Sul com marinha dos Carmos de João Infante de Lacerda, do nascente com marinha Fidalga de José Branco de Cabedo, e do Poente com marinha do Casarão de João Esteves de Carvalho. Calculamos que a referida marinha pelo seu estado e extensão, deve produzir, termo médio, nove centos moios de sal, que a preço médio de cada moio de novecentos reis, sendo portanto a importância total da produção de oito contos e dez mil reis. Que daquela quantia há a deduzir a quantia de trezentos mil reis, importância das despesas de custeamento, vindo portanto a ser o rendimento líquido da marinha quinhentos e dez mil reis, que tanto é o valor locativo dela, e avaliamos conseguintemente o valor venal da mesma marinha em dez contos e duzentos mil reis, importância de vinte rendas.

#5 Marinha denominada Guedes comprido, situada nos retro mencionados esteiro e freguesia, e ali observamos que esta confina do norte com a de João Esteves de Carvalho, de Sul com o rio da Palma e marinha dos Penentes, do nascentes com marinha do João Esteves de Carvalho, e do poente com rio da Palma. Calculamos em atenção à capacidade da mesma marinha que a sua produção media deve ser de trezentos moios de sal, que a novecentos reis cada um, importam em duzentos e setenta mil reis, que reduzidas as despesas de custeamento que calculamos em cem mil reis, vem a ser a renda líquida da marinha cento e setenta mil reis, e sendo este o valor locativo, segundo os cálculos que fizemos e deixamos referidos, é o valor venal da marinha de três contos e quatrocentos mil réis, importância de vinte rendas.


18 de Novembro 1868.