Se há acontecimento histórico recente que marca a
História de Portugal, é o Regicídio. Não será por isso de estranhar o meu
interesse em consultar os jornais do dia seguinte ao assassinato, os de dia 2
de Fevereiro de 1908.
O artigo faz o relato emocionado dos últimos minutos
da vida d’El Rei e do Príncipe Real. Primeiro , um homem de barba negra, surge da
multidão, saca da carabina escondida no sobretudo e dispara o traiçoeiro, pelas
costas d’ El Rei atingindo-o mortalmente na nuca. D. Carlos tomba morto para os
braços da Rainha D. Amélia. Não satisfeito, o torpe assassino, ou melhor dizendo
assassinos, varejam com balas o Príncipe D. Luís Filipe, que caí atingido no
pescoço e nuca. Em desassombro, a Rainha levanta-se para amparar o filho, logo
se debruçando para ouvir os seus últimos murmúrios. Na carruagem atrás, D. Manuel
era também emboscado, mas tem tempo para se defender. Assim, escapa quase
ileso.
Depois de breves momentos de confusão, a população
reage impedindo que os criminosos disparem sobre D. Amélia. As carruagens
arrancam a trote. Para trás, os três assassinos são engolidos na multidão que
os lincha.
A notícia ocupava nem metade da primeira página. Pensei que se fosse hoje teríamos no mínimo ligação em directo com 24 horas de noticiário continuo.
….
Prossegui na leitura do dito jornal curioso sobre
os acontecimentos daquele dia. Uma notícia pequena, em caixa na segunda página,
dava conta da morte de uma Sra. D. Gaudência Lobo da Silveira. Era esta senhora
casada com D. Luís Lobo da Silveira, e para que não existissem dúvidas, entre parêntesis
escreveram: Alvito.
Quem seria? Um e outro, pois não os tinha encontrado
nunca. Procurei nos livros, não fosse falhar-me a memória, e nada.
<Naturalmente houve algum engano da redacção> pensei. <Impostores não
devem ser, pois em 1908 ainda vivia o Barão de Alvito, pelo que ninguém se
atreveria a usurpar a filiação, isso dava direito a um enxovalho em praça pública.
Se fosse um caso recente, da actualidade, nada me surpreendia, pois mesmo no
outro dia encontrei uns de Beja que se dizem Alvitos e não são, nem pinga, tão
pouco cêpa, sendo que a casta que têm é mesmo da uva, e as ilusões resultado da
fermentação desta> concluí.
Meses mais tarde, quis o destino que tropeçasse novamente
na Sra. D. Gaudência Lobo da Silveira. No processo do imposto sucessório fica esclarecido
que é casada com D. Luís Lobo da Silveira, filho dos Barões de Alvito. A
certidão de casamento confirma-o, e encontrei a certidão de nascimento. Não há
dúvida, D. Henriqueta Policarpa Lobo da Silveira e D. António Luis de Sousa
Coutinho, Marqueses e Barões de Alvito tiveram mais um filho, nascido em 1832,
e por isso o mais novo dos rapazes. É o
sétimo filho, dos oito conhecidos, a ver:
D. Eugénia Lobo da Silveira * 10.12.1824
D. José Lobo da Silveira Quaresma, 4º marquês e 16º barão do Alvito * 11.03.1826
D. Fernando Estanislau José António Lobo da Silveira * 07.05.1827
D. Isabel Juliana Lobo da Silveira * 19.06.1828
D. Manuel Lobo da Silveira * 17.11.1829
D. António Clemente Lobo da Silveira * 23.11.1830
D. Luís Lobo da Silveira *1832
D. Margarida Lobo da Silveira * 1835
Não deixou descendência. Não deixou memória.
E porque razão foi apagado?
Descobrir a existência de D. Luís Lobo da Silveira
parece ser coisa pouca, ou não ter importância nenhuma. Mas quando se estuda
uma família que teve a presença na História de Portugal que os Alvitos tiveram,
e se observa que um dos seus, na última geração de titulares foi esquecido,
abrem-se novas perspectivas para a investigação e para a compreensão da sua
história.
Por mim, sinto-me um Botânico que encontrou uma
nova espécie, este espécime que dá pelo nome de D. Luís Lobo da Silveira.
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