terça-feira, 14 de abril de 2015

No dia do Regicídio


Se há acontecimento histórico recente que marca a História de Portugal, é o Regicídio. Não será por isso de estranhar o meu interesse em consultar os jornais do dia seguinte ao assassinato, os de dia 2 de Fevereiro de 1908.

O artigo faz o relato emocionado dos últimos minutos da vida d’El Rei e do Príncipe Real. Primeiro , um homem de barba negra, surge da multidão, saca da carabina escondida no sobretudo e dispara o traiçoeiro, pelas costas d’ El Rei atingindo-o mortalmente na nuca. D. Carlos tomba morto para os braços da Rainha D. Amélia. Não satisfeito, o torpe assassino, ou melhor dizendo assassinos, varejam com balas o Príncipe D. Luís Filipe, que caí atingido no pescoço e nuca. Em desassombro, a Rainha levanta-se para amparar o filho, logo se debruçando para ouvir os seus últimos murmúrios. Na carruagem atrás, D. Manuel era também emboscado, mas tem tempo para se defender. Assim, escapa quase ileso.
Depois de breves momentos de confusão, a população reage impedindo que os criminosos disparem sobre D. Amélia. As carruagens arrancam a trote. Para trás, os três assassinos são engolidos na multidão que os lincha.  

A notícia ocupava nem metade da primeira página. Pensei que se fosse hoje teríamos no mínimo ligação em directo com 24 horas de noticiário continuo. 
….
Prossegui na leitura do dito jornal curioso sobre os acontecimentos daquele dia. Uma notícia pequena, em caixa na segunda página, dava conta da morte de uma Sra. D. Gaudência Lobo da Silveira. Era esta senhora casada com D. Luís Lobo da Silveira, e para que não existissem dúvidas, entre parêntesis escreveram: Alvito.


Quem seria? Um e outro, pois não os tinha encontrado nunca. Procurei nos livros, não fosse falhar-me a memória, e nada. <Naturalmente houve algum engano da redacção> pensei. <Impostores não devem ser, pois em 1908 ainda vivia o Barão de Alvito, pelo que ninguém se atreveria a usurpar a filiação, isso dava direito a um enxovalho em praça pública. Se fosse um caso recente, da actualidade, nada me surpreendia, pois mesmo no outro dia encontrei uns de Beja que se dizem Alvitos e não são, nem pinga, tão pouco cêpa, sendo que a casta que têm é mesmo da uva, e as ilusões resultado da fermentação desta> concluí.

Meses mais tarde, quis o destino que tropeçasse novamente na Sra. D. Gaudência Lobo da Silveira. No processo do imposto sucessório fica esclarecido que é casada com D. Luís Lobo da Silveira, filho dos Barões de Alvito. A certidão de casamento confirma-o, e encontrei a certidão de nascimento. Não há dúvida, D. Henriqueta Policarpa Lobo da Silveira e D. António Luis de Sousa Coutinho, Marqueses e Barões de Alvito tiveram mais um filho, nascido em 1832, e por isso o mais novo dos rapazes. É o sétimo filho, dos oito conhecidos, a ver: 


D. Eugénia Lobo da Silveira * 10.12.1824


D. José Lobo da Silveira Quaresma, 4º marquês e 16º barão do Alvito * 11.03.1826


D. Fernando Estanislau José António Lobo da Silveira * 07.05.1827


D. Isabel Juliana Lobo da Silveira * 19.06.1828


D. Manuel Lobo da Silveira * 17.11.1829


D. António Clemente Lobo da Silveira * 23.11.1830


D. Luís Lobo da Silveira *1832


D. Margarida Lobo da Silveira * 1835


Não deixou descendência. Não deixou memória. E porque razão foi apagado?

Descobrir a existência de D. Luís Lobo da Silveira parece ser coisa pouca, ou não ter importância nenhuma. Mas quando se estuda uma família que teve a presença na História de Portugal que os Alvitos tiveram, e se observa que um dos seus, na última geração de titulares foi esquecido, abrem-se novas perspectivas para a investigação e para a compreensão da sua história.


Por mim, sinto-me um Botânico que encontrou uma nova espécie, este espécime que dá pelo nome de D. Luís Lobo da Silveira.

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